Ignorâncias, intermitências e complexidades em torno de uma cor: a superficialidade da aparência e a profundidade da essência
Por João Bernardo Paul Valéry escreveu num livro publicado pela primeira vez em 1931: «A História é o produto mais perigoso que a química do cérebro elaborou. As suas propriedades são bem conhecidas. Faz sonhar, embriaga os povos, cria-lhes falsas memórias, exagera-lhes os reflexos, nutre-lhes as velhas mágoas, atormenta-os no repouso, condu-los ao delírio das grandezas ou ao da perseguição e torna as nações amargas, arrogantes, insuportáveis e vaidosas». Naquela época eram os fascismos, mobilizadores dos ressentimentos nacionais, que inquietavam Paul Valéry. Mas, hoje, às nações somaram-se as identidades, todas elas amargas, arrogantes, insuportáveis e vaidosas. O ressentimento, que gera o rancor, tem um carácter obsessivo, preenche o horizonte, tinge os factos e estimula invenções convenientes. Por isso no movimento negro contemporâneo tudo é interpretado em função de um tema exclusivo — o mito da cor. Essa cor é, evidentemente, a cor negra. Mas é aí que surgem os problem...