Matemática e literatura: crônica da mais humana das ciências sendo a mais precisa e a superação da oposição entre humanas e exatas
Por Marcelo Viana (Instituto de Matemática Pura e Aplicada da USP) Passei o fim de semana na Feira do Livro em São Paulo para o lançamento do meu livro "Histórias da Matemática" , antologia de colunas que escrevo na Folha desde 2017. Ocasião para voltar a meditar sobre a relação íntima entre literatura e matemática e a suposta antítese entre "humanas" e "exatas". Um jornalista conhecido surpreendeu-se com o livro "agradável de ler" escrito por um matemático. "Eu achava que nós de humanas sabíamos escrever, e o pessoal de exatas fazia contas", explicou-me. Já eu gosto de provocar os colegas com a afirmação enfática de que a matemática é a mais humana das ciências, sem deixar de ser a mais exata. A antítese é invenção recente. Seguindo Platão , o ensino medieval dividia o conjunto do conhecimento em sete artes, organizadas no trivium (gramática, retórica e lógica) e no quadrivium (aritmética, música, geometria e astronomia), t...