As armadilhas do identitarismo e as aporias do lugar de fala: ‘colocando os pontos nos is’
Paul Cézanne, Monte Sainte-Victoire Por Luís Felipe Miguel (Cientista político, Universidade de Brasília) Faz tempo, eu decidi me meter na discussão sobre identitarismo, embora sabendo que é cheia de armadilhas. A primeira armadilha é óbvia: é fácil que a crítica à deriva identitária desemboque em um discurso conservador, de defesa da velha cegueira voluntária às hierarquias sociais ou da visão “meritocrática” insensível ao peso das desigualdades estruturais ou sistêmicas na definição das trajetórias individuais. Ou desemboca então, em uma versão “à esquerda”, por vezes externada por lideranças políticas ou intelectuais progressistas, na ideia de que só importa a desigualdade de renda (na versão liberal) ou de classe (na versão marxista). Outras armadilhas são mais sutis. Em particular, há o risco de adotar uma postura paternalista, na forma seja de desculpar as agressões perpetradas por grupos identitários, com a justificativa de que expressam um res...