Eleição: política e manipulação religiosa
Por
Márcia Tiburi (Professora
de Filosofia e escritora)
Nenhum candidato teria nenhuma obrigação de ser cristão ou acreditar em Deus, mas desde que caímos na armadilha da teocracia e da teologia do enriquecimento, a mistificação corre solta e descontrolada. O Brasil está sendo transformado em um inferno por pastores e padres embusteiros que descobriram que podem avançar na direção do poder sem nenhum tipo de controle.
Os pastores e suas igrejas são abusadores de Deus transformado em uma moeda de troca. Jesus foi igualmente rebaixado a objeto de mercado. A política faz parte desse mercado, como vemos em Plano de Poder, livro de Edir Macedo, no qual se veem as bases para se construir uma nação segundo os preceitos de sua empresa religiosa cujos fins lucrativos são ocultados.
O fundamentalismo de pastores e padres tem
objetivos claros: a mistificação para chegar ao poder político e econômico. A
mistificação é tanta que um falso padre participou de um debate há poucos dias
na condição de candidato à presidência da República. De fato, a democracia se
transforma em demagogia rapidamente.
Não é difícil ver isso para quem tem uma relação lúcida com seu Deus pessoal ou com a religião organizada pelas igrejas fora desse jogo. As atuais igrejas neopentecostais funcionam justamente como o mais vil mercado, mas também como movimentos e partidos, e não visam o exercício da religião pura e simples, mas a lavagem cerebral, a saber, processos linguísticos para a dominação de mentes e corpos de seus adeptos. Nesse sentido, a religião se torna um mecanismo de controle de todos e de cada um.
A dominação está dada. O pastor da igreja define o que as pessoas devem pensar e fazer, inclusive em quem devem votar. A subjetividade, a vontade e a capacidade de refletir de cada um é cancelada.
Ninguém mais tem o direito à própria liberdade.
As pessoas esquecem de si mesmas, ao mesmo tempo que se tornam servis. Elas
agem a partir de comandos exteriores acreditando que são livres. Mesmo que isso
signifique entregar-se ao satanismo político que, na própria religião cristã,
significa cair nas mãos dos falsos messias. Por isso, o projeto de poder das
igrejas de mercado atuais é totalmente diabólico, não é por acaso que a
maçonaria faça parte de toda essa teocracia.
Rouba-se a alma das pessoas convencendo-as de
que elas devem entregar tudo: suas mentes e seus bens. Não há nada mais
perverso do que explorar a fé de pessoas simples com o objetivo de ganhar
dinheiro.
Se existisse inferno, certamente esse seria o destino de todos os pastores demoníacos que mistificam e enganam, e enriquecem por meio disso. O Brasil só será uma democracia quando a laicidade for garantida.