A coragem de não agradar
Na procura de
conhecimentos, o primeiro passo é o silêncio, o segundo ouvir, o terceiro
relembrar, o quarto praticar e o quinto ensinar aos outros.
(Provérbio
judaico)
A verdade não muda porque é, ou não é, acreditada por uma maioria de pessoas.
(Giordano
Bruno)
Por Pedro
Zucchetti Filho
O livro A Coragem de não Agradar, de autoria dos escritores japoneses Fumitake Koga e Ichiro Kishimi, é uma incisiva e, ao mesmo tempo, sutil incitação ao autodescobrimento. Ao narrar, à semelhança dos diálogos desenvolvidos por Sócrates e imortalizados por Platão, conversas mantidas entre um filósofo e um jovem na periferia de uma cidade, a obra evidencia como a mudança e a metamorfose estão ao alcance de todos nós.
Baseando-se nos ensinamentos
legados pelo psicanalista austríaco Alfred Adler - um dos expoentes da psicanálise do início do
século XX, ao lado de Sigmund Freud e Carl G. Jung -, os autores vão lançando, à
medida que as conversas entre o filósofo e o jovem progridem, pérolas de
conhecimento que exortam o leitor a realizar a misteriosamente libertadora - e árdua
- tarefa de introspecção.
O filósofo, um dos personagens criados pelos autores, no decorrer da conversa
com o jovem procura mostrar-lhe conceitos até então desconhecidos para este e
que foram disseminados por Adler. Um desses conceitos-chave é o de que, ao
contrário do que estabelece o senso comum, não vivemos sob a tirana da
onipresente influência do passado, mas que adotamos nossos comportamentos
atuais tendo por fundamento metas que diariamente estabelecemos, ainda que de
forma inconsciente.
É assim que o filósofo,
esclarecendo o equívoco do pensamento psicológico freudiano quanto a alguns
aspectos da psicologia, nega a existência das feridas psíquicas em nossas vidas
e defende o abandono da etiologia, a fim de que adotemos uma perspectiva
teleológica, a qual tem por base o estudo dos fins dos fenômenos. É a adoção
deste novo ponto de vista que permitirá a superação da paralisação,
convidando-nos à ação e, por conseguinte, à transformação de nossos valores.
Dentre outros conceitos
interessantíssimos mencionados e defendidos pelo filósofo - e que, novamente,
apoiam-se nos ensinamentos de Adler - está o de estilo de vida, que se enquadraria
na forma como vemos o mundo e como enxergamos a nós mesmos, além de representar
nosso temperamento e personalidade. Ao contrário do que supostamente pensamos,
o estilo de vida é algo escolhido por nós na tenra idade e pode ser alterado ao
longo dos anos, não se tratando de algo imutável. Como repetidamente enfatiza o
filósofo, ao mudarmos nosso estilo de vida, mudamos nossas perspectivas, o que
leva, ao fim e ao cabo, à mudança na forma como interpretamos nossas
experiências.
Conceitos adicionais e que certamente fisgarão a atenção do leitor são os
referentes às tarefas da vida e separação de tarefas, e que aqui, se esmiuçados,
demandariam várias linhas. Apesar de sua complexidade, o livro tem o atrativo
de simplificar a explicação de diversos conceitos além dos mencionados e de
demonstrar como os relacionamentos interpessoais são a maior fonte de
crescimento de que dispomos.
O firme e corajoso filósofo e
o insistente jovem estão lhe aguardando, leitor. E ambos têm algo de muita
valia para compartilhar.
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