Movimentos sociais como movimentos antissistêmicos: o que são?
'O Quarto Estado', de Giuseppe Volpedo: trabalhadores em marcha |
Por Carlos Antonio Aguirre Rojas (Universidade Autônoma do México)
O
conceito de movimentos antissistêmicos foi cunhado por Immanuel
Wallerstein para tratar de englobar em um só termo as duas famílias principais
dos movimentos sociais, que se desenvolveram e se afirmaram durante o século XIX,
e que são, de um lado, todos os movimentos sociais e socialistas surgidos nos
países centrais e semiperiféricos do sistema mundial, e de outro, o conjunto de
movimentos nacionalistas, anticolonialistas e de libertação nacional
desenvolvidos na grande maioria das nações da vasta periferia desse mesmo
sistema mundial capitalista. Porque neste ponto, relativo aos movimentos
sociais de oposição, Immanuel Wallerstein, defendendo sua tese central de que é
preciso diferenciar os diversos fenômenos estudados, de acordo com os distintos
espaços constitutivos do sistema mundial capitalista (que abarcam o centro, a
semiperiferia e a periferia do sistema), distingue essas duas grandes famílias
de movimentos de oposição surgidos nos séculos XIX e XX, e demonstra que, muito
embora os movimentos socialistas e comunistas que desafiavam o sistema em torno
da relação entre o trabalho assalariado e o capital, tenham nascido e se
afirmado sobretudo, mesmo que não exclusivamente, nos países centrais, será nas
zonas dos países periféricos do mundo, que vão prosperar com mais força e
protagonismo de movimentos de liberação nacional, anti-imperialistas e
anticoloniais, desafiando centralmente a relação de dependência e de exploração
econômica de países periféricos por parte dos países ricos e centrais do
sistema. Isso não impede que também se estabeleçam movimentos socialistas na
periferia e movimentos nacionalistas no centro e na semiperiferia. É claro que
a maior ênfase, em cada caso, se encontra mais nitidamente nos movimentos socialistas
do centro e da semiperiferia, e os ditos movimentos nacionais da periferia.
Porém,
mais além do sentido original do termo, que inclusive dentro da obra do próprio
Wallerstein foi melhorado com o decorrer do tempo, é também significativo que o
dito conceito de movimentos antissistêmicos foi se popularizando e se
difundindo cada vez mais, tanto no seio dos grupos de ativistas e militantes
dos mais diversos segmentos sociais de protesto e de oposição ao capitalismo,
como igualmente nos trabalhos e ensaios de pensadores críticos que tentam
explicar e analisar esses mesmos movimentos que contestam o sistema capitalista
atual. E assim, há uma diversidade de formas e sentidos, que equipara o termo
movimentos antissistêmicos com o de movimentos anticapitalistas a qualquer
manifestação, até mesmo de dissidência individual ou de resistência informal
contra as múltiplas expressões do capitalismo.
Para
tentar propor o que, em nossa opinião e nas condições atuais do terceiro milênio,
pode significar o termo movimentos antissistêmicos talvez possa ser útil considerar
alguns esclarecimentos conceituais preliminares que distingam o que são as
formas de protesto individuais das formas coletivas de manifestações que
semeiam e formam um verdadeiro movimento social; e igualmente mostrar as
diferenças e as conexões entre uma mobilização social e um movimento social; e
entre movimentos sociais das classes médias, ou de setores dominantes, dos
movimentos realmente populares; ou, mesmo, entre movimentos sociais, que são de
um lado conservadores e outros que, em sua antípoda, são movimentos sociais
progressistas; e os que são somente de oposição interna ao sistema ou
pró-capitalistas, dos movimentos genuinamente anticapitalistas; assim como
entre estes últimos e os movimentos que são mais profunda e radicalmente
antissistêmicos.