Sobre a crise na UERJ: para além do autoritarismo e do populismo, a universidade merece respeito
Por André Lázaro
(Professor aposentado da UERJ, tendo atuado em atividades
de ensino, pesquisa e extensão e integrado a equipe que instituiu a Política de
Ações Afirmativas na instituição)
Lamentáveis as imagens da UERJ nestes últimos dias. Pioneira no sistema de
cotas, a Universidade pública mais popular não apenas pela política de ação
afirmativa, mas, desde sempre, por acolher em seus cursos noturnos o estudante
trabalhador, a UERJ sofre agora com violências incompatíveis com sua história.
Mas, de que imagens estamos falando? A entrada da Polícia Militar para realizar
a reintegração de posse é lamentável, como são lamentáveis as imagens da violência
perpetuada pelos que se dizem “ocupantes”: violência contra o patrimônio da
Universidade, violência contra as pessoas que buscavam construir um acordo,
violência na interrupção de sessões do Conselho Universitário.
Até 7 de janeiro de 2023, era inaceitável que a polícia entrasse no
Congresso Nacional. Mas no dia 8/01/23...Sim, os métodos dos “ocupantes” os
tornaram tragicamente semelhantes ao que assistimos horrorizados em janeiro do
ano passado.
Houve erros e continua havendo, mas o mais grave deles é ignorar o processo
de construção de soluções e se deixar levar pelo espetáculo tik-tok das
imagens. Como chegamos a esse ponto? As organizações que se pronunciam contra a
presença da PM deveriam, também, se interessar em apurar essa questão: que
roteiro levou a UERJ à essa situação? Quem fomentou a crise? Quem, com ela,
buscou diluir suas próprias responsabilidades com a manutenção insustentável de
um programa de bolsas sem orçamento? Após as negociações e a obtenção de mais
recursos do governo do estado, a Reitoria apresentou propostas que cobrem a
maior parte das justas reivindicações estudantis. A UERJ tem 26 mil alunos e 16
mil recebem alguma bolsa estudantil, ou seja, 62% do alunado tem apoio para
seguir sua jornada acadêmica. Mas a ambição política de poucos recusou os
acordos e lançou a UERJ nesta situação crítica.
A UERJ merece respeito, tanto por sua longa história como pelo modo como a
Reitoria de Gulnar e Bruno buscou enfrentar as limitações orçamentárias para
dar suporte às atividades acadêmicas de estudantes cotistas e aqueles em
situação de vulnerabilidade social. No entanto, esta condição não é um salvo
conduto para ações de violência e depredação. É triste que a PM entre na UERJ,
e mais terrível é que o faça para impedir que “ocupantes” rompam o acordo com a
justiça e se voltem com violência contra a própria instituição que os acolheu.
Houve diálogo, mediação, houve participação da justiça na construção de um
acordo e, acima de tudo, houve, por parte da Reitoria, a responsabilidade de
garantir a integridade de sua equipe, ameaçada diversas vezes, e do patrimônio
da Universidade. No entanto, havia outros interesses em jogo além da política
de Assistência Estudantil. Para os “ocupantes”, era importante ter vítimas.
Conseguiram. Heróis ou oportunistas?
A UERJ é maior e mais importante do que esses episódios. A Instituição tem
o compromisso, que vem realizando, de formar gerações com capacidade técnica e
compromisso social de transformar nosso país. Não será a depredação e a
intransigência que nos levarão nessa direção. A UERJ merece respeito!