Aula Pública - Entre a batina, o conhecimento e a revolução: o popular e a práxis de Camilo Torres Restrepo

 

Aproximamo-nos do centenário do colombiano Camilo Torres Restrepo, nome de referência na América Latina. 2024 marca os 95 anos de seu nascimento e os 58 anos da sua morte em combate armado ao lado do movimento popular insurreto Exército de Libertação Nacional (ELN).

Padre, Camilo foi um dos pioneiros da teologia da libertação na América Latina. Estudou sociologia, tendo-se doutorado na Universidade Católica de Lovaina/Bélgica. Ao regressar para a Colômbia, fundou, ao lado de Orlando Fals Borda e outros, a Faculdade de Sociologia e criou o primeiro programa disciplinar de sociologia da  América Latina. A chave da opção religiosa de Camilo era, poder-se-á dizer, mais terrena e menos de 'transcendência teológica', tendo a ver com as condições  concretas de vida das pessoas, designadamente das pessoas espoliadas. Tal chave se traduzia no que ele chamou de ‘amor eficaz’, a busca pelo estabelecimento de relações igualitárias e pela justiça social. Essa sua perspectiva, em última instância,  levou-o a choques com a hierarquia eclesiástica, que resultaram no rompimento com a igreja católica e no abandono da vida sacerdotal. Passou a se dedicar exclusivamente à vida acadêmica e à atividade política, sendo de notar a produção de trabalhos de significativa relevância, de sua autoria, como A proletarização de Bogotá. Terminou, por fim, a se passar inteiramente à guerrilha do Exército de Libertação Nacional (ELN). Uma via de busca pela mudança social que alguns sujeitos das gerações de latino-americanos, como a minha, miraram, principalmente nos albores da nossa juventude. Camilo, contudo, foi morto em combate. Entre a batina, a sociologia, a educação e as armas, na procura pelo 'amor eficaz', eis o percurso da práxis revolucionári de Camilo Torres Restrepo. 

Nome de referência nos estudos sobre a definição do significado de classes populares, na América Latina de língua espanhola, Camilo é, a esse respeito, no Brasil, praticamente desconhecido. Trabalhos como Notas sobre la Noción de Clase Popular de Camilo Restrepo, de Nicolás Armando Herrera Farfán,  são amplamente ignorados, bem como o Camilo Torres Restrepo: polifonías del amor eficaz.  Objetivando contribuir para superar essa lacuna, assim como buscando evidenciar a relevância da sua memória histórica e das suas contribuições, no próximo dia 19/11, pelas 9h30, terá lugar no âmbito da Disciplina Pesquisa em Educação Popular, do PPGE/UFPB, a aula pública Entre a batina, o conhecimento e a revolução: o popular e a práxis de Camilo Torres Restrepo,  a ser ministrada pelo prof. Carlos Manrique, da Universidade de Cartagena/Colômbia. Decorrerá de forma remota, via Google Meet, e insere-se num ciclo de conferências sobre a renovação/recriação do pensamento educacional crítico latino-americano, tendo em conta as novas realidades e os novos desafios do século XXI.  

(Texto do professor Ivonaldo Neres-Leite - DED/CCAE/UFPB) 

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